Reportagem da Associated Press expôs a participação altos membros da diretoria do New Orleans Saints no caso
A investigação conduzida por Jim Mustian e Brett Martel, repórteres da Associated Press, revelou que membros importantes da diretoria do New Orleans Saints protegeram padres da Arquidiocese de New Orleans envolvidos em casos de abuso sexual contra menores.
E-mails vazados mostraram que Dennis Lauscha, presidente dos Saints, e outros dirigentes ofereceram suporte a integrantes do clero processados por esses crimes. Eles, inclusive, organizaram uma campanha de relações públicas para minimizar os impactos da crise na igreja. A investigação também expôs como várias instituições locais, incluindo um juiz federal e um veículo de mídia, colaboraram para proteger a igreja.
E-mails dos Saints interceptados revelaram momentos cruciais. Em 2018, um porta-voz da equipe informou Lauscha sobre uma ligação com um promotor da cidade. Durante essa conversa, discutiram a divulgação de uma lista com nomes de padres acusados de abuso sexual, e alguns desses nomes foram removidos.
Sobretudo, executivos dos Saints acessaram essa lista antes de outras pessoas fora da igreja. Embora incompleta, a lista chamou a atenção de autoridades federais e estaduais. Lauscha preparou perguntas para o arcebispo Gregory Aymond responder à imprensa, enquanto Greg Bensel, vice-presidente sênior de comunicações, atualizava Lauscha sobre entrevistas com padres, evidenciando a colaboração entre a igreja e o time.
Essas informações contradizem as declarações dos Saints de cinco anos atrás, quando afirmaram ter fornecido apenas “assistência mínima” aos padres. Mandie Landry, deputada estadual, expressou revolta, questionando o motivo de tanto esforço para proteger abusadores.
Em resposta, os Saints afirmaram que a parceria com a igreja é de longo prazo e criticaram a mídia por interpretar de forma equivocada os e-mails vazados. O time, aliás, declarou oficialmente que ninguém da franquia tolera ou tenta encobrir abusos na arquidiocese.
Gayle Benson, proprietária dos Saints, negou qualquer envolvimento da franquia na lista de padres abusadores. Mesmo assim, os e-mails levantam dúvidas sobre o papel da equipe em um escândalo que poderia violar a política da NFL de “detrimento à liga”.
Roger Goodell, comissário da NFL, afirmou que Benson e os dirigentes dos Saints são cidadãos corporativos exemplares e expressou confiança em seu papel de apoio à transparência. Investigações estaduais e federais continuam em andamento.
E-mails também mostraram a colaboração de órgãos locais com a igreja. O juiz Jay Zainey elogiou Bensel, enquanto um editor de jornal agradeceu o envolvimento do vice-presidente dos Saints. O litígio aberto em 2020 envolve mais de 600 vítimas de abuso, com registros que documentam anos de acusações e um padrão de transferências de clérigos sem notificar as autoridades.
A Associated Press identificou 20 clérigos acusados de abuso sexual infantil omitidos da lista oficial. Sobretudo, a lista serviu de base para investigações do FBI e da Polícia Estadual de Louisiana. Em uma busca na Arquidiocese de New Orleans, a polícia apreendeu registros, incluindo comunicações com o Vaticano.
Gayle Benson liderou uma campanha de relações públicas para apoiar a igreja, utilizando contatos na mídia local. Ela pediu a jornais que colaborassem com a igreja, destacando a contribuição dos Saints e do New Orleans Pelicans para o sucesso da cidade.
Benson e o arcebispo Aymond mantêm uma relação próxima. A fundação dos Bensons doou milhões de dólares para causas católicas, e Aymond celebrou missas antes de jogos. Durante o auge das alegações de abuso, Bensel trabalhou com a mídia local para moldar a narrativa, influenciando reportagens e mantendo comunicações confidenciais.
E-mails mostraram que o jornal The Advocate removeu um aviso online que incentivava vítimas a relatar abusos, após uma reclamação de Aymond. O editor Kevin Hall afirmou que o jornal continua comprometido com a cobertura imparcial da crise de abuso sexual da arquidiocese.
O caso continua a evoluir, com investigações em andamento e questionamentos sobre o papel da franquia dos Saints na proteção de abusadores.