Após temporada decepcionante, equipe texana buscou reforços para defesa e aposta na dupla Doncic-Irving para voltar aos playoffs
Depois de alcançar a final da Conferência Oeste em 2021-22, o Dallas Mavericks foi, possivelmente, a maior decepção da temporada passada. A campanha de 38 vitórias e 44 derrotas foi muito aquém das expectativas, e a equipe terminou no 11° lugar do Oeste, fora até mesmo da classificação para o torneio de play-in. Agora, com a adição de jogadores de característica defensiva e, principalmente, com a permanência de Kyrie Irving, os Mavs buscam voltar aos playoffs.
Desde o fim da temporada regular, quando Dallas optou por poupar suas principais estrelas para garantir uma escolha top 10 no Draft (estratégia que rendeu punição da NBA), a principal preocupação da franquia e dos fãs era a renovação de Irving. O armador coleciona polêmicas ao longo da carreira, e seu talento parece ser proporcional à sua imprevisibilidade. Kyrie chegou aos Mavericks em fevereiro deste ano, através de uma troca, onde os texanos abriram mão de ativos valiosos.
Com um contrato expirante, logo surgiram as especulações de que Irving poderia assinar com outro time na free agency. O histórico do armador aumentou a preocupação em Dallas, levando em conta as saídas relativamente conturbadas de Cleveland Cavaliers e Boston Celtics. Contudo, apesar da tensão inicial, Mark Cuban e o general manager Nico Harrison agiram rápido, garantindo a renovação do camisa 11 nas primeiras horas de mercado, com um contrato de três anos e um valor razoável de US$ 120 milhões.
A principal esperança de sucesso da franquia segue sendo Luka Doncic. Entrando em seu sexto ano na liga, o esloveno continua elevando seu jogo. Na temporada passada, registrou sua melhor média de pontos da carreira e a segunda melhor da NBA, com 32,4 por jogo. Também manteve bons números de rebotes (8,6), assistências (oito) e roubos de bola (1,4). O grande desempenho rendeu a quarta seleção para o All-Star Game, além de figurar mais uma vez no time ideal da temporada. Luka ainda marcou seu nome na história, com uma impressionante atuação diante do New York Knicks. Foram 60 pontos, 21 rebotes e dez assistências, se tornando o primeiro jogador da liga a conseguir tais números.
O ataque dos Mavericks foi revolucionado a partir da chegada de Kyrie. Mesmo que, por vezes, o encaixe com Doncic parecesse um pouco confuso aos olhos, Irving cumpriu o que se esperava e elevou o nível ofensivo da equipe. Com as duas estrelas em quadra, Dallas teve estatisticamente o melhor ataque da NBA. O retrospecto geral da dupla não foi tão empolgante. Com ambos disponíveis, os texanos perderam 11 partidas e venceram apenas cinco. No entanto, o principal problema foi outro: a defesa.
Mesmo com a campanha decepcionante, Jason Kidd recebeu mais um voto de confiança no comando técnico. Entrando em sua terceira temporada como treinador da equipe, terá um desafio importante. Se quiser permanecer no cargo, Kidd precisará construir um sistema defensivo eficiente, como fez em seu primeiro ano nos Mavs. Dallas terminou a temporada com o sexto pior rating defensivo (pontos cedidos a cada 100 posses de bola) e a quarta menor média de rebotes defensivos (48,6), além de ser o décimo time que mais cedeu pontos no garrafão (51,1). A situação piorou depois da saída de Dorian Finney-Smith, especialista defensivo que acabou sendo envolvido na troca por Irving.
Por todos os motivos listados, durante a offseason, os Mavericks priorizaram a adição de jogadores com características defensivas. O principal reforço foi Grant Williams, defensor competente que chega ao Texas depois de boas temporadas com o Boston Celtics. Depois de alguns anos longe da NBA, o armador australiano Dante Exum foi contratado após atuações sólidas no Partizan, da Sérvia. Saindo do Chicago Bulls, Derrick Jones Jr. assinou durante a free agency, assim como o velho conhecido Seth Curry, que sai do Brooklyn Nets para viver sua terceira passagem em Dallas.
O garrafão foi, de longe, o setor mais movimentado. A começar pelo contestado Dwight Powell que, mesmo sem contar com muita simpatia por parte dos torcedores, renovou por mais três anos. Esforçado, Powell se mostrou um bom parceiro de pick’n roll para Luka Doncic, mas, não é um reboteiro confiável e se torna um alvo fácil de pivôs adversários mais dominantes. Depois de uma temporada tímida no Sacramento Kings, o também pivô Richaun Holmes chega para tentar reviver os bons momentos de 2021-22. A alta aposta em JaVale McGee não se pagou, o veterano foi dispensado e já assinou com os Kings. Em seu lugar, retorna ao elenco Markieff Morris, que chegou ao lado de Kyrie na última temporada.
Além de McGee, os Mavericks conseguiram se livrar do péssimo contrato de Davis Bertans, trocado para o Oklahoma City Thunder. O desfalque mais sentido, no entanto, deve ser o de Reggie Bullock. Apesar da inconsistência no perímetro, o ala teve bons momentos na defesa durante seu período em Dallas. Agora, defenderá as cores do rival Houston Rockets. Quem também saiu foi Christian Wood, que viveu bons momentos no início da temporada, porém, perdeu espaço e sequer teve sua renovação de contrato cogitada.
Os problemas defensivos da equipe na última temporada também foram levados em consideração no Draft. Depois de algumas trocas, os Mavs terminaram a noite com as escolhas 12 e 24. A primeira foi usada no pivô Dereck Lively II, de Duke. Lively se destacou no basquete universitário por sua proteção de aro, assim como pela habilidade de coletar rebotes, duas necessidades urgentes da franquia texana. Mesmo não parecendo totalmente pronto para a NBA, recebeu elogios recentes da comissão técnica e pode ganhar alguns minutos. O outro selecionado foi Olivier-Maxence Prosper, de Marquette, e também especialista em defesa.
Entre os coadjuvantes, destaque para os jovens Josh Green e Jaden Hardy. Green conseguiu, na última temporada, o salto de qualidade tão aguardado pelos Mavs, registrando as melhores médias da carreira nos três principais fundamentos, com 9,1 pontos, três rebotes e 1,7 assistência por jogo. Agora elegível para uma extensão de contrato, o australiano deve ser peça fundamental nos dois lados da quadra. Já Hardy, candidato a steal do Draft de 2022, terminou a campanha como peça ofensiva importante.
Levando em consideração as limitações financeiras da equipe, é possível dizer que os Mavericks tiveram uma excelente offseason. Focaram a busca por reforços em sua principal carência (bons defensores), se livraram de contratos ruins e renovaram com Irving. O ataque não deve ser problema, visto que Doncic e Kyrie, dois dos melhores armadores da NBA, terão mais tempo de treinamento e toda a pré-temporada para buscar o entrosamento necessário. Além disso, os texanos contam com bons arremessadores em Tim Hardaway Jr., Curry, Williams, Maxi Kleber, Green e Hardy, e bons parceiros de pick’n roll em Dwight Powell e Richaun Holmes.
O aspecto que deve definir o sucesso do time, contudo, continua sendo a defesa. Apesar da chegada de defensores competentes, algumas questões ainda pairam sobre os Mavs. A primeira diz respeito às duas estrelas. Doncic tem alternado entre ótimos e péssimos momentos na defesa, enquanto Kyrie até se mostrou um bom defensor de mano a mano, mas, somente quando está motivado a fazê-lo. Nesse cenário, com os dois em quadra, quem estaria apto a marcar armadores de grande qualidade como Stephen Curry, Ja Morant, Jamal Murray, Damian Lillard, entre outros?
Já a segunda questão está, evidentemente, no garrafão. Powell já se mostrou incapaz de proteger o aro, e Holmes também está longe de ser um especialista no quesito. Lively pode emergir como um potencial candidato mas, no ataque, está muito abaixo dos outros dois. Além disso, ainda não se sabe sobre o encaixe do pick’n roll com Doncic, principal jogada de meia quadra dos Mavericks hoje. Cabe a Kidd resolver o problema. Não será surpresa se, durante a temporada, Dallas buscar um pivô mais dominante defensivamente, como por exemplo Clint Capela, tantas vezes especulado na franquia texana.
Mesmo que ainda existam problemas a serem resolvidos, é difícil imaginar que os Mavs farão uma temporada pior ou igual a anterior. Se as principais estrelas estiverem saudáveis, e Kyrie conseguir se manter longe de polêmicas, suspensões e todo o drama envolvido na experiência do armador até o momento, o time é mais do que capaz de conseguir bons resultados. Em uma Conferência Oeste extremamente disputada, é quase impossível garantir o sucesso absoluto de algum time. No entanto, Dallas pode ser o dono de um ataque histórico na próxima temporada e, com uma sonhada melhora defensiva, se tornar competitivo novamente na briga pelos playoffs.
(Foto: Ron Jenkins/Getty Images)
Principais chegadas: Grant Williams, Seth Curry, Richaun Holmes, Dante Exum e Dereck Lively II
Principais saídas: Christian Wood, Reggie Bullock e Davis Bertans
Ponto forte: O ataque orquestrado pela dupla Luka Doncic e Kyrie Irving, que deve figurar entre os melhores da liga.
Ponto fraco: A defesa, especialmente no garrafão. Mesmo com a chegada de reforços, a equipe deve continuar sofrendo com rebotes defensivos e jogadas de pick’n roll eficientes.
Campanha em 22-23: 38-44 (11° lugar do Oeste)
Provável quinteto: Luka Doncic, Kyrie Irving, Tim Hardaway Jr., Grant Williams e Dwight Powell
Franchise player: Luka Doncic
Sexto homem: Josh Green
Head coach: Jason Kidd
Briga por: Vaga direta nos playoffs