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16 de setembro de 2023 - 18h09

O que é um ‘cut block’ e por que ele foi o grande ‘vilão’ da lesão de Aaron Rodgers

'Technique' utilizada por jogadores da linha ofensiva foi protagonista do lance no qual o quarterback rompeu o tendão de Aquiles

“Eu odeio não poder vê-lo lá [no gramado]”, afirmou o offensive tackle Duane Brown, após a emocionante vitória do New York Jets para cima do Buffalo Bills, no primeiro Monday Night Football da temporada. “Vencemos, mas [perdê-lo] na primeira campanha da temporada não é o ideal”.

A esse ponto, evidentemente, você já sabe a quem Brown se refere. Ao ver Aaron Rodgers olhando à linha lateral, balançando a cabeça e, enfim, voltando a cair ao gramado, estático, a torcida dos Jets sabia que a temporada estava terminando ali – e praticamente antes mesmo de começar. Agora, com Zach Wilson comandando a unidade ofensiva, a equipe dificilmente irá ao Super Bowl.

“Eu sinto mais por Aaron do que qualquer um”, disse o head coach da franquia, Robert Saleh, após a partida. “Ele honrou tanto o time, queria fazer parte desta caminhada. Tenho muita compaixão por ele”.

Ainda, sobre o futuro, deixou claro: “Zach Wilson é nosso quarterback”. Se você, portanto, era um adepto da ideia de trazer Jameis Winston ou algum outro veterano para guiar o barco na ausência de Rodgers, melhor aceitar logo os termos. Não vai rolar.

Mas, analisando os quatro snaps com Rodgers no gramado, é possível colher informações bem interessantes e que trazem consigo um dos motivos pela lesão do astro. Pelo menos por ora, esqueça toda a discussão sobre o gramado sintético – vamos falar dos cut blocks.

O primeiro snap com Rodgers em campo foi uma bela corrida de Breece Hall para 26 jardas. E foi só. Dali em diante na campanha, o time praticamente só andou para trás – e sofreu um dos maiores ‘baques’ da história do futebol americano.

Na segunda jogada, a primeira tentativa de passe do camisa 8. O lance figurou o right tackle Mekhi Becton literalmente mergulhando nas pernas do defensive end Gregory Rousseau, a fim de dar mais tempo a Rodgers para fazer o lançamento. E isso, senhoras e senhores, é o chamado cut block: um offensive lineman se jogando nas pernas do defensor em rota de pressão, a fim de, primeiro, tirá-lo da linha de passe, jogando-o ao chão, e, segundo, prover mais tempo para o quarterback fazer o passe.

Pois bem, não deu certo. O defensor chega ao lançador, que precisa se livrar da bola para evitar o sack, mandando-a às arquibancadas.

Agora, 2ª para 10: os Bills mostram cinco homens na linha de scrimmage e cumprem a blitz. Pressionado novamente, Rodgers arrisca passe para Tyler Conklin, que não consegue o domínio. A arbitragem marca uma segurada de defesa, contudo, dando cinco jardas e um novo first down aos donos da casa.

E aí, aconteceu. O grande e triste momento da semana 1. Novamente, agora com Duane Brown, os Jets apostam em um cut block. O tackle se lança nas pernas de Leonard Floyd, e, mais uma vez, a technique não funciona. A diferença é que o sack, agora, acontece – e, junto dele, esvaem-se as esperanças do primeiro Super Bowl da franquia em mais de cinco décadas e, possivelmente, da primeira ida aos playoffs desde 2010.

Apesar das lamentações de Brown – e do fato de ter, inevitavelmente, sido protagonista do lance -, Saleh saiu em defesa do jogador depois do jogo, alegando não ter sido sua culpa e ressaltando que a jogada se estendeu além do ideal: “Acabou sendo um lance bem infeliz”.

E isso nos leva ao foco da discussão.

Em entrevista nesta semana ao The Athletic, David Bakhtiari, tackle do Green Bay Packers que defendeu Rodgers por mais de uma década, afirmou: “Já ouvi muita m… dele (Rodgers) por tentar fazer o cut block. (…) Quando vi a galera protegendo o passe daquele jeito, pensei: ‘Bom, claramente está faltando comunicação’. Porque, se o seu técnico te diz para defender daquele jeito, então ele não conhece Aaron”.

“Eu sei muito bem disso”, seguiu. “Aaron com certeza já falou sobre isso (cut blocks) com eles. Então só posso pensar que nem todos estão muito bem alinhados. [Mas], de novo, essa não foi a única razão do sack. Muitos outros fatores entram aí”.

Realmente, não foi a única razão. Mas é uma discussão que precisa vir à tona. Rodgers sempre foi conhecido, sobretudo, por sua capacidade de improviso. É um expert nisso. Porém, para isso acontecer, é necessário tempo no pocket – e o cut block, definitivamente, não tem isso como premissa. Ele até te dá alguns décimos de segundo valiosos, mas nada capaz de estender uma jogada a ponto de dar ‘asas’ a Rodgers, como ficamos mais do que acostumados a ver durante suas temporadas no norte – e, como o próprio Saleh afirmou, isso não era mesmo o projetado para aquela chamada. A ideia era que o QB se livrasse rapidamente da bola.

Só que, com Rodgers, o grande trunfo é apostar no seu ‘feeling’: fechar bem o cerco, segurar a pressão pelo maior tempo possível e deixar a magia acontecer. É óbvio que existem vários momentos em que é preciso passar rapidamente, não me entenda errado – mas não foi só para isso que ele foi contratado por US$ 75 milhões.

Entenda, principalmente em um início de temporada, é extremamente comum que as primeiras jogadas de ataque sejam pré-determinadas pelo plano de jogo, muitas vezes sem se importar com descidas ou distâncias para first down – ou seja, a não ser que a defesa mostre uma formação muito fora do esperado em uma situação bem pontual, a unidade desempenhará aquela jogada. É possível, assim, afirmar com bastante segurança que os cut blocks estavam no game plan de Nathaniel Hackett, coordenador defensivo e ex-head coach de Russell Wilson, no ano passado, no Denver Broncos, e que Rodgers estava a par.

Outro ponto que corrobora com a análise: o número de dropbacks de Rodgers. O QB, em shotgun, recebe o snap e dá apenas três passos para trás, indicando que a ideia era se livrar rapidamente da bola – de novo, menção à fala de Saleh. Ao invés disso, contudo, Brown cai no chão, deixa Floyd passar e Rodgers sofre a lesão que o tirou do restante da temporada.

Então, sim: Rodgers ficou com a bola na mão além do necessário. O plano era um início de jogo mais veloz, ainda mais levando em consideração a qualidade do front-seven de Buffalo e todas as dúvidas acerca da linha ofensiva de New York. ‘Ela será capaz de manter Rodgers inteiro durante toda a temporada?’ era uma pergunta comum desta offseason. E, bom, acho que temos a resposta.

Foram apenas quatro snaps, é verdade, mas que continham muitas informações valiosas. E, se quatro snaps foram capazes de arrancar o sonho de milhões de nova-iorquinos daquela forma, também são capazes de gerar questionamentos acerca do plano montado por Hackett e Keith Carter, técnico da linha ofensiva – e que certamente recebera aprovação de Rodgers.

(Imagens: Reprodução Twitter / Around The NFL; reprodução vídeo)

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